Opinião

O que falta acontecer?

Por Lisiani Rotta
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Após a Primeira Guerra a Alemanha enfrenta a superinflação, o desemprego e a fome. Entre as massas desesperadas está Adolf Hitler, um artista desempregado de 30 anos, que se sobressai ao despejar o seu ódio pelos judeus através de inflamados discursos. Assim como Benito Mussolini, Hitler referia-se a si mesmo como um homem do povo. Quem melhor para liderar do que alguém capaz de sentir o que o povo sente? Porém, é preciso mais, deve-se conquistar as pessoas num nível mais profundo, penetrar no seu subconsciente, doutriná-las. Para isso, é imprescindível criar uma bandeira, um símbolo próprio.

Para a psique humana é muito importante fazer parte de um movimento. Se você se pergunta sobre as pessoas inteligentes, sensíveis e corretas que fecham os olhos às ações criminosas de alguns líderes, já tem a resposta. Lealdade. Um ditador precisa de apoio incondicional. Num governo opressor não há lugar para questionamentos. Os fins justificam os meios. Hitler teve em Goebbels o seu seguidor mais leal. Alguém que compreendia o poder da mídia, do cinema e da Educação. Conhecia o incrível poder da repetição. Idolatrava tanto o Führer que, no fim, juntamente com a esposa, envenenou os seis filhos e se suicidou. Não suportava a ideia do mundo sem Hitler. A pergunta é: como um “homem comum” consegue manipular e explorar tão bem a raiva do seu povo? Há um documentário muito interessante sobre isso. Como Se tornar um tirano. Diz o documentário que a melhor oportunidade para um ditador é uma boa crise. Se ela não existe, ele deve criá-la. Há táticas para aumentar a vulnerabilidade de um povo, tal como impedir o cidadão de exercer a sua legítima defesa. (Vale lembrar que objetos não cometem crimes. Facas, revólveres, cordas, carros, motocicletas, aviões, não matam sem a ação humana. Portanto, o que se deve tirar de circulação são os criminosos e não os objetos).

Acabar com as liberdades civis, como o direito de ir e vir, de gerenciar o próprio dinheiro ou o direito à livre expressão, também, são táticas eficientes para esmagar a oposição. Alimentar a ganância dos seus aliados, comprar a sua lealdade, oferecer oportunidades de corrupção. De onde vem tanto dinheiro? Cleptocracia. A nacionalização dos recursos naturais do país. Tudo o que há de mais valioso deve ser controlado pelo Estado. Assim, Saddan Hussein, filho de um pastor pobre, acumulou dois bilhões de dólares. Como podemos ver, há muito em comum entre os que exploram as fraquezas do povo para conquistar e manter o poder.
Quando as políticas agrícolas de Stalin mataram milhões de fome na Ucrânia, ele usou a desinformação, a censura e jornalistas coniventes para conter a divulgação da verdade. O Gigante Gentil de Uganda, famoso por seu carisma, garantia impunidade aos aliados antes de apontar um bode expiatório. Deu 9 dias para os asiáticos deixarem o país. Famílias que viviam em Uganda há várias gerações tiveram de abandonar tudo. Algumas deixaram as chaves nos carros em frente aos aeroportos. Seus bens e negócios foram passados aos ugandenses que, sem competência, quebraram. Stalin culpou os agricultores por acumularem riqueza nos anos 30, quando a economia da URSS minguava. Quebrar os laços de confiança que une o povo é uma tática perfeita para desestabilizá-lo. Alimentar o ressentimento, o preconceito, faz com que as pessoas se alinhem psicologicamente com o opressor sem perceber que estão sendo manipuladas. Depois de censurarem as mídias, desarmarem os cidadãos e se aparelharem ainda mais pra garantir o poder, o que falta acontecer no Brasil?


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